EQUILIBRO É A CHAVE
O
Martelo das Feiticeiras
Malleus Maleficarum
Malleus Maleficarum
Acredito que tudo na vida tem haver com o equilíbrio.Nem tudo de mais, nem tudo de menos.
Uma substancia em excesso pode matar, pouca talvez não resolva, e na medida certa ,ela fará resultado. Quando se tem uma dor se tomamos remédio demais ficamos intoxicado com risco até mesmo de vida; de menos não tem efeito ,mas a dose certa(equilíbrio) resolve a situação.
Assim como tudo na vida.O equilíbrio deve ponderar nossas ações.Enquanto não entendermos isso, viveremos em uma sociedade injusta e sofrida.
Vivemos séculos de repressão de ideias,ações,sentimentos.Hoje vemos uma situação de extrema liberdade onde ,por não termos o equilíbrio, caímos em erro e acabamos por ver a queda de valores tão importantes como o amor da família que a base de qualquer ser humano.
Nascemos numa pequena sociedade.
E na convivência, primeiramente, com os pais e irmãos, depois com avós, tios,primos;após colegas e amigos da escola, trabalho e finalmente a grande sociedade.
Começamos nosso treinamento para vivermos em sociedade nesse pequeno núcleo que vai se expandindo até que concretize enfim o seu ápice na sociedade propriamente dita.
Se não há o cuidado da educação, do amor para aquele pequeno ser que nasce e se desenvolve, ele cresce a merce das informações externas que lhes são passadas de forma leviana e falsa.
O que ocorre hoje.A falta de informação na era da informação, onde não se tem a responsabilidade sobre os próprios atos. Achamos sempre alguém apara culpar sobre aquilo que nós mesmos praticamos ou permitimos que se façam.
Ou se tende para o machismo ou para o feminismo;ou para o excesso de zelo ou para o descuido total, pelo puritanismo extremo ou para a libertinagem decadente.
Não se vê um meio termo.Não se vê o equilíbrio.
Acredito que é isto que estamos buscando.Mas até lá ainda vamos ver muitas meninas darem cabeçadas e sofrer com o próprio erro , assim como os meninos quebrando a cara , por não terem a orientação adequada para suas vidas ,também sofrendo com os erros cometidos. Não no sentido de manipula-los para o que devem fazer, mas sim de mostrar que aquilo que somos é importante,que devemos pensar pelas nossas próprias ideias, desde que nosso comportamento não fira a liberdade do outro.
O nosso direito termina onde começa o direito do outro, assim como nossa liberdade acaba onde começa a o próximo.
Ou seja, não devemos querer ou fazer ao outro,aquilo que não queiramos que se nos façam.
Seguindo essa máxima não tem como errar!
E pesquisando a internet, me deparei com um tema, sobre o qual , o assunto me causou curiosidade e procurando achei um texto de Rose Marie Muraro,uma brasileira lutadora pelos direitos da mulher e hoje reconhecida como tal.
Na verdade eu queria falar sobre o Martelo das Bruxas,algo extremamente machista e misógeno,injusto e cruel; onde a mulher é descartada como um ser humano e a tomam como algo pelo que se tem posse, e que foge ao equilíbrio da natureza humana e a natureza como um todo.
Não fomos criados para o extremismo.E o extremismo causa seríssimos problemas.Foge ao EQUILÍBRIO.
Ah ! se alguém tiver curiosidade de ler o cruel e hediondo livro,coloco aqui o local:
No próximo post vamos falar sobre a criação da raça adâmica e o papel decisivo de Ninhar , a geneticista, medica dos Annunakis e a sua natureza física,assim como o desenvolvimento da raça.
Achei muito interessante pertinente ao assunto e por isso resolvi cita-lo:
Breve Introdução Histórica
POR ROSE
MARIE MURARO
Para
compreendermos a importância do Malleus é preciso termos uma visão ao menos
mínima da história da mulher no interior da história humana em geral.
Segundo
a maioria dos antropólogos, o ser humano habita este planeta há mais de dois
milhões de anos. Mais de três quartos deste tempo a nossa espécie passou nas
culturas de coleta e caça aos pequenos animais. Nessas sociedades não havia
necessidade de força física para a sobrevivência, e nelas as mulheres possuíam
um lugar central.
Em nosso
tempo ainda existem remanescentes dessas culturas, tais como os grupos mahoris
(Indonésia), pigmeus e bosquímanos (África Central). Estes são os grupos mais
primitivos que existem e ainda sobrevivem da coleta dos frutos da terra e da
pequena caça ou pesca. Nesses grupos, a mulher ainda é considerada um ser
sagrado, porque pode dar a vida e, portanto, ajudar a fertilidade da terra e
dos animais. Nesses grupos, o princípio masculino e o feminino governam o mundo
juntos. Havia divisão de trabalho entre os sexos, mas não havia desigualdade.
A vida corria mansa e paradisíaca.
Nas
sociedades de caça aos grandes animais, que sucedem a essas mais primitivas, em
que a força física é essencial, é que se inicia a supremacia masculina. Mas nem
nas sociedades de coleta nem nas de caça se conhecia função masculina na
procriação. Também nas sociedades de caça a mulher era considerada um ser
sagrado, que possuía o privilégio dado pelos deuses de reproduzir a espécie. Os
homens se sentiam marginalizados nesse processo e invejavam as mulheres. Essa
primitiva inveja do útero” dos homens é a antepassada da moderna “inveja do
pênis” que sentem as mulheres nas culturas patriarcais mais recentes.
A inveja
do útero dava origem a dois ritos universalmente encontrados nas sociedades de
caça pelos antropólogos e observados em partes opostas do mundo, como Brasil e
Oceania. O primeiro é o fenômeno da couvade, em que a mulher começa a trabalhar
dois dias depois de parir e o homem fica de resguardo com o recém-nascido,
recebendo visitas e presentes... O segundo é a iniciação dos homens. Na
adolescência, a mulher tem sinais exteriores que marcam o limiar da sua entrada
no mundo adulto. A menstruação a torna apta à maternidade e representa um novo
patamar em sua vida. Mas os adolescentes homens não possuem esse sinal tão
óbvio. Por isso, na puberdade eles são arrancados pelos homens às suas mães,
para serem iniciados na “casa dos homens”. Em quase todas essas iniciações, o
ritual é semelhante: é a imitação cerimonial do parto com objetos de madeira e
instrumentos musicais. E nenhuma mulher ou criança pode se aproximar da casa
dos homens, sob pena de morte. Desse dia em diante o homem pode “parir” ritualmente
e, portanto, tomar seu lugar na cadeia das gerações...
Ao
contrário da mulher, que possuía o “poder biológico”, o homem foi desenvolvendo
o “poder cultural” à medida que a tecnologia foi avançando. Enquanto as
sociedades eram de coleta, as mulheres mantinham uma espécie de poder, mas
diferente das culturas patriarcais. Essas culturas primitivas tinham de ser
cooperativas, para poder sobreviver em condições hostis, e portanto não havia
coerção ou centralização, mas rodízio de lideranças, e as relações entre homens
e mulheres eram mais fluidas do que viriam a ser nas futuras sociedades
patriarcais.
Nos
grupos matricêntricos, as formas de associação entre homens e mulheres não
incluíam nem a transmissão do poder nem a da herança, por isso a liberdade em
termos sexuais era maior. Por outro lado, quase não existia guerra, pois não
havia pressão populacional pela conquista de novos territórios.
E só nas
regiões em que a coleta é escassa, ou onde vão se esgotando os recursos
naturais vegetais e os pequenos animais, que se inicia a caça sistemática aos
grandes animais. E aí começam a se instalar a supremacia masculina e a
competitividade entre os grupos na busca de novos territórios. Agora, para
sobreviver, as sociedades têm de competir entre si por um alimento escasso. As
guerras se tornam constantes e passam a ser mitificadas. Os homens mais
valorizados são os heróis guerreiros. Começa a se romper a harmonia que ligava
a espécie humana à natureza. Mas ainda não se instala definitivamente a lei do
mais forte. O homem ainda não conhece com precisão a sua função reprodutora e
crê que a mulher fica grávida dos deuses. Por isso ela ainda conserva poder de
decisão. Nas culturas que vivem da caça, já existe estratificação social e
sexual, mas não é completa como nas sociedades que se lhes seguem.
E no
decorrer do neolítico que, em algum momento, o homem começa a dominar a sua
função biológica reprodutora, e, podendo controlá-la, pode também controlar a
sexualidade feminina. Aparece então o casamento como o conhecemos hoje, em que
a mulher é propriedade do homem e a herança se transmite através da
descendência masculina. Já acontece assim, por exemplo, nas sociedades pastoris
descritas na Bíblia. Nessa época, o homem já tinha aprendido a fundir metais.
Essa descoberta acontece por volta de 10000 ou 8000 a.C. E, à medida que essa
tecnologia se aperfeiçoa, começam a ser fabricadas não só armas mais
sofisticadas como também instrumentos que permitem cultivar melhor a terra (o
arado, por ex.).
Hoje há
consenso entre os antropólogos de que os primeiros humanos a descobrir os
ciclos da natureza foram as mulheres, porque podiam compará-los com o ciclo do
próprio corpo. Mulheres também devem ter sido as primeiras plantadoras e as
primeiras ceramistas, mas foram os homens que, a partir da invenção do arado,
sistematizaram as atividades agrícolas, iniciando uma nova era, a era agrária,
e com ela a história em que vivemos hoje.
Para
poder arar a terra, os grupamentos humanos deixam de ser nômades. São obrigados
a se tornar sedentários. Dividem a terra e formam as primeiras plantações.
Começam a se estabelecer as primeiras aldeias, depois as cidades, as
cidades-estado, os primeiros Estados e os impérios, no sentido antigo do termo.
As sociedades, então, se tornam patriarcais, isto é, os portadores dos valores
e da sua transmissão são os homens. Já não são mais os princípios feminino e
masculino que governam juntos o mundo, mas, sim, a lei do mais forte. A comida
era primeiro para o dono da terra, sua família, seus escravos e seus soldados.
Até ser escravo era privilégio. Só os párias nômades, os sem-terra, é que
pereciam no primeiro inverno ou na primeira escassez.
Nesse
contexto, quanto mais filhos, mais soldados e mais mão-de-obra barata para arar
a terra. As mulheres tinham a sua sexualidade rigidamente controlada pelos
homens. O casamento era monogâmico e a mulher era obrigada a sair virgem das
mãos do pai para as mãos do marido. Qualquer ruptura desta norma podia
significar a morte. Assim também o adultério: um filho de outro homem viria
ameaçar a transmissão da herança que se fazia através da descendência da
mulher. A mulher fica, então, reduzida ao âmbito doméstico. Perde qualquer
capacidade de decisão no domínio público, que fica inteiramente reservado ao
homem. A dicotomia entre o privado e o público torna-se, então, a origem da
dependência econômica da mulher, e esta dependência, por sua vez, gera, no
decorrer das gerações, uma submissão psicológica que dura até hoje.
E nesse
contexto que transcorre todo o período histórico até os dias de hoje. De
matricêntrica, a cultura humana passa a patriarcal.
E o Verbo Veio Depois
“No
principio era a Mãe, o Verbo veio depois.” l~ assim que Marilyn French, uma das
maiores pensadoras feministas americanas, começa o seu livro Beyond Power
(Summit Books, Nova York, 1985). E não é sem razão, pois podemos retraçar os
caminhos da espécie através da sucessão dos seus mitos. Um mitólogo americano,
em seu livro The Masks of God: Occidental Mythology (Nova York, 1970), citado
por French, divide em quatro grupos todos os mitos conhecidos da criação. E,
surpreendentemente, esses grupos correspondem às etapas cronológicas da
história humana.
Na
primeira etapa, o mundo é criado por uma deusa mãe sem auxílio de ninguém. Na
segunda, ele é criado por um deus andrógino ou um casal criador. Na terceira,
um deus macho ou toma o poder da deusa ou cria o mundo sobre o corpo da deusa
primordial. Finalmente, na quarta etapa, um deus macho cria o mundo sozinho.
Essas
quatro etapas que se sucedem também cronologicamente são testemunhas eternas da
transição da etapa matricêntrica da humanidade para sua fase patriarcal, e é
esta sucessão que dá veracidade à frase já citada de Marilyn French.
Alguns
exemplos nos farão entender as diversas etapas e a frase de French. O primeiro
e mais importante exemplo da primeira etapa em que a Grande Mãe cria o universo
sozinha é o próprio mito grego. Nele a criadora primária é Géia, a Mãe Terra.
Dela nascem todos as protodeuses: Urano, osTitãs e as protodeusas, entre as
quais Réia, que virá a ser a mãe do futuro dominador do Olimpo, Zeus. Há também
o caso do mito Nagô, que vem dar origem ao candomblé. Neste mito africano, é
Nanã Buruquê que dá à luz todos os orixás, sem auxílio de ninguém.
Exemplos
do segundo caso são o deus andrógino que gera todos os deuses, no hinduísmo, e
o yin e o yang, o principio feminino e o masculino que governam juntos na
mitologia chinesa.
Exemplos
do terceiro caso são as mitologias nas quais reinam em primeiro lugar deusas
mulheres, que são, depois, destronadas por deuses masculinos. Entre essas
mitologias está a sumeriana, em que primitivamente a deusa Siduri reinava num
jardim de delícias e cujo poder foi usurpado por um deus solar. Mais tarde, na
epopéia de Gilgamesh, ela é descrita como simples serva. Ainda, os mitos
primitivos dos astecas falam de um mundo perdido, de um jardim paradisíaco
governado por Xoxiquetzl, a Mãe Terra. Dela nasceram os Huitzuhuahua, que são
os Titâs e os Quatrocentos Habitantes do Sul (as estrelas). Mais tarde, seus
filhos se revoltam contra ela e ela dá à luz o deus que iria governar a todos,
Huitzilopochtli.
A partir
do segundo milênio a.C., contudo, raramente se registram mitos em que a
divindade primária seja mulher. Em muitos deles, estas são substituídas por um
deus macho que cria o mundo a partir de si mesmo, tais como os mitos persa,
meda e, principalmente e acima de todos, o nosso mito cristão, que é o que será
enfocado aqui.
Javé é
deus único todo-poderoso, onipresente, e controla todos os seres humanos em
todos os momentos da sua vida. Cria sozinho o mundo em sete dias e, no final,
cria o homem. E só depois cria a mulher, assim mesmo a partir do homem. E
coloca ambos no Jardim das Delícias onde o alimento é abundante e colhido sem
trabalho. Mas, graças à sedução da mulher, o homem cede à tentação da serpente
e o casal é expulso do paraíso.
Antes de
prosseguir, procuremos analisar o que já se tem até aqui em relação à mulher.
Em primeiro lugar, ao contrário das culturas primitivas, Javé é deus único,
centralizador, dita rígidas regras de comportamento cuja transgressão é sempre
punida. Nas primitivas mitologias, ao contrário, a Grande Mãe é permissiva,
amorosa e não coercitiva. E como todos os mitos fundantes das grandes culturas
tendem a sacralizar os seus principais valores, Javé representa bem a
transformação do matricentrismo em patriarcado.
O Jardim
das Delícias é a lembrança arquetípica da antiga harmonia entre o ser humano e
a natureza. Nas culturas de coleta não se trabalhava sistematicamente. Por isso
os controles eram frouxos e podia se viver mais prazerosamente. Quando o homem
começa a dominar a natureza, ele começa a se separar dessa mesma natureza em
que até então vivia imerso.
Como o
trabalho é penoso, necessita agora de poder central que imponha controles mais
rígidos e punição para a transgressão. É preciso usar a coerção e a violência
para que os homens sejam obrigados a trabalhar, e essa coerção é localizada no
corpo, na repressão da sexualidade e do prazer. Por isso o pecado original, a
culpa máxima, na Bíblia, é colocado no ato sexual (é assim que, desde milênios,
popularmente se interpreta a transgressão dos primeiros humanos).
E por
isso que a árvore do conhecimento é também a árvore do bem e do mal. O
progresso do conhecimento gera o trabalho e por isso o corpo tem de ser
amaldiçoado, porque o trabalho é bom. Mas é interessante notar que o homem só
consegue conhecimento do bem e do mal transgredindo a lei do Pai. O sexo (o
prazer) doravante é mau e, portanto, proibido. Praticá-lo é transgredir a lei.
Ele é, portanto, limitado apenas às funções procriativas, e mesmo assim é uma
culpa.
Daí a
divisão entre sexo e afeto, entre corpo e alma, apanágio das civilizações
agrárias e fonte de todas as divisões e fragmentações do homem e da mulher, da
razão e da emoção, das classes...
Tomam ai
sentido as punições de Javé. Uma vez adquirido o conhecimento, o homem tem que
sofrer, O trabalho o escraviza. E por isso o homem escraviza a mulher. A
relação homem-mulher-natureza não é mais de integração e, sim, de dominação. O
desejo dominante agora é o do homem. O desejo da mulher será para sempre
carência, e é esta paixão que será o seu castigo. Daí em diante, ela será
definida por sua sexualidade, e o homem, pelo seu trabalho.
Mas o
interessante é que os primeiros capítulos do Gênesis podem ser mais bem
entendidos à luz das modernas teorias psicológicas, especialmente a
psicanálise. Em cada menino nascido no sistema patriarcal repete-se, em nível
simbólico, a tragédia primordial. Nos primeiros tempos de sua vida, eles estão
imersos no Jardim das Delícias, em que todos os seus desejos são satisfeitos.
E isto lhes faz buscar o prazer que lhes dá o contato com a mãe, a única mulher
a que têm acesso. Mas a lei do pai proíbe ao menino a posse da mãe. E o menino
é expulso do mundo do amor, para assumir a sua autonomia e, com ela, a sua
maturidade. Principalmente, a sua nudez, a sua fraqueza, os seus limites. E à
medida que o homem se cinde do Jardim das Delícias proporcionadas pela
mulher-mãe que ele assume a sua condição masculina.
E para
que possa se tornar homem em termos simbólicos, ele precisa passar pela punição
maior que é a ameaça de morte pelo pai. Como Adão, o menino quer matar o pai e
este o pune, deixando-o só.
Assim,
aquilo que se verifica no decorrer dos séculos, isto é, a transição das
culturas de coleta para a civilização agrária mais avançada, é relembrado
simbolicamente na vida de cada um dos homens do mundo de hoje. Mas duas
observações devem ser feitas. A primeira é que o pivô das duas tragédias, a
individual e a coletiva, é a mulher; e a segunda, que o conhecimento condenado
não é o conhecimento dissociado e abstrato que daí por diante será o
conhecimento dominante, mas sim o conhecimento do bem e do mal, que vem da
experiência concreta do prazer e da sexualidade, o conhecimento totalizante que
integra inteligência e emoção, corpo e alma, enfim, aquele conhecimento que é,
especificamente na cultura patriarcal, o conhecimento feminino por excelência.
Freud
dizia que a natureza tinha sido madrasta para a mulher porque ela não era
capaz de simbolizar tão perfeitamente como o homem. De fato, para podermos
entender a misoginia que daí por diante caracterizará a cultura patriarcal, é
preciso analisar a maneira como as ciências psicológicas mais atuais apontam
para uma estrutura psíquica feminina bem diferente da masculina.
A mesma
idade em que o menino conhece a tragédia da castração imaginária, a menina
resolve de outra maneira o conflito que a conduzirá á maturidade. Porque já vem
castrada, isto é, porque não tem pênis (o símbolo do poder e do prazer, no
patriarcado), quando seu desejo a leva para o pai ela não entra em conflito com
a mãe de maneira tão trágica e aguda como o menino entra com o pai por causa da
mãe. Porque já vem castrada, não tem nada a perder. E a sua identificação com a
mãe se resolve sem grandes traumas. Ela não se desliga inteiramente das fontes
arcaicas do prazer (o corpo da mãe). Por isso, também, não se divide de si
mesma como se divide o homem, nem de suas emoções. Para o resto da sua vida,
conhecimento e prazer, emoção e inteligência são mais integrados na mulher do
que no homem e, por isso, são perigosos e desestabilizadores de um sistema que
repousa inteiramente no controle, no poder e, portanto, no conhecimento
dissociado da emoção e, por isso mesmo, abstrato.
De agora
em diante, poder, competitividade, conhecimento, controle, manipulação,
abstração e violência vem juntos. O amor, a integração com o meio ambiente e
com as próprias emoções são os elementos mais desestabilizadores da ordem
vigente. Por isso é preciso precaver-se de todas as maneiras contra a mulher,
impedi-la de interferir nos processos decisórios, fazer com que ela introjete
uma ideologia que a convença de sua própria inferioridade em relação ao homem.
E não
espanta que na própria Bíblia encontremos o primeiro indício desta desigualdade
entre homens e mulheres. Quando Deus cria o homem, Ele o cria só e apenas
depois tira a companheira da costela deste. Em outras palavras: o primeiro
homem dá à luz (pare) a primeira mulher. Esse fenômeno psicológico de
deslocamento é um mecanismo de defesa conhecido por todos aqueles que lidam com
a psique humana e serve para revelar escondendo. Tirar da costela é menos
violento do que tirar do próprio ventre, mas, em outras palavras, aponta para a
mesma direção. Agora, parir é ato que não está mais ligado ao sagrado e é,
antes, uma vulnerabilidade do que uma força. A mulher se inferioriza pelo
próprio fato de parir, que outrora lhe assegurava a grandeza. A grandeza agora
pertence ao homem, que trabalha e domina a natureza.
Já não é
mais o homem que inveja a mulher. Agora é a mulher que inveja o homem e é
dependente dele. Carente, vulnerável, seu desejo é o centro da sua punição. Ela
passa a se ver com os olhos do homem, isto é, sua identidade não está mais nela
mesma e sim em outro. O homem é autônomo e a mulher é reflexa. Daqui em diante,
como o pobre se vê com os olhos do rico, a mulher se vê pelo homem.
Da época
em que foi escrito o Gênesis até os nossos dias, isto é, de alguns milênios
para cá, essa narrativa básica da nossa cultura patriarcal tem servido
ininterruptamente para manter a mulher em seu devido lugar. E, aliás, com muita
eficiência. A partir desse texto, a mulher é vista como a tentadora do homem,
aquela que perturba a sua relação com a transcendência e também aquela que
conflitua as relações entre os homens. Ela é ligada à natureza, à carne, ao
sexo e ao prazer, domínios que têm de ser rigorosamente normatizados: a
serpente, que nas eras matricêntricas era o símbolo da fertilidade e tida na
mais alta estima como símbolo máximo da sabedoria, se transforma no demônio, no
tentador, na fonte de todo pecado. E ao demônio é alocado o pecado por
excelência, o pecado da carne. Coloca-se no sexo o pecado supremo e, assim, o
poder fica imune à crítica. Apenas nos tempos modernos está se tentando
deslocar o pecado da sexualidade para o poder. Isto é, até hoje não só o homem
como as classes dominantes tiveram seu status sacralizado porque a mulher e a
sexualidade foram penalizadas como causa máxima da degradação humana.
O Malleus como Continuação do Gênesis
Enquanto
se escrevia o Gênesis no Oriente Médio, as grandes culturas patriarcais iam se
sucedendo. Na Grécia, o status da mulher foi extremamente degradado. O
homossexualismo era prática comum entre os homens e as mulheres ficavam
exclusivamente reduzidas às suas funções de mãe, prostituta ou cortesã. Em
Roma, embora durante certo período tivessem bastante liberdade sexual, jamais
chegaram a ter poder de decisão no Império. Quando o Cristianismo se torna a
religião oficial dos romanos no século IV, tem início a Idade Média. Algo novo
acontece. E aqui nos deteremos porque é o período que mais nos interessa.
Do
terceiro ao décimo séculos, alonga-se um período em que o Cristianismo se
sedimenta entre as tribos bárbaras da Europa. Nesse período de conflito de
valores, é muito confusa a situação da mulher. Contudo, ela tende a ocupar
lugar de destaque no mundo das decisões, porque os homens se ausentavam muito e
morriam nos períodos de guerra. Em poucas palavras: as mulheres eram jogadas
para o domínio público quando havia escassez de homens e voltavam para o
domínio privado quando os homens reassumiam o seu lugar na cultura.
Na alta
Idade Média, a condição das mulheres floresce. Elas têm acesso às artes, às
ciências, à literatura. Uma monja, por exemplo, Hrosvitha de Gandersheim, foi o
único poeta da Europa durante cinco séculos. Isso acontece durante as cruzadas,
período em que não só a Igreja alcança seu maior poder temporal como, também, o
mundo se prepara para as grandes transformações que viriam séculos mais tarde,
com a Renascença.
E é logo
depois dessa época, no período que vai do fim do século XIV até meados do
século XV III que aconteceu o fenômeno generalizado em toda a Europa: a
repressão sistemática do feminino. Estamos nos referindo aos quatro séculos de
“caça às bruxas”.
Deirdre
English e Barbara Ehrenreich, em seu livro Witches, Nurses and Midwives (The
Feminist Press, 1973), nos dão estatísticas aterradoras do que foi a queima de
mulheres feiticeiras em fogueiras durante esses quatro séculos. “A extensão da
caça às bruxas é espantosa. No fim do século XV e no começo do século XVI,
houve milhares e milhares de execuções - usualmente eram queimadas vivas na
fogueira - na Alemanha, na Itália e em outros países. A partir de meados do
século XVI, o terror se espalhou por toda a Europa, começando pela França e
pela Inglaterra. Um escritor estimou o número de execuções em seiscentas por
ano para certas cidades, uma média de duas por dia, ‘exceto aos domingos’.
Novecentas bruxas foram executadas num único ano na área de Wertzberg, e cerca
de mil na diocese de Como. Em Toulouse, quatrocentas foram assassinadas num
único dia; no arcebispado de Trier, em 1585, duas aldeias foram deixadas apenas
com duas mulheres moradoras cada uma. Muitos escritores estimaram que o número
total de mulheres executadas subia à casa dos milhões, e as mulheres
constituíam 85~Vo de todos os bruxos e bruxas que foram executados.”
Outros
cálculos levantados por Marilyn French, em seu já citado livro, mostram que o
número mínimo de mulheres queimadas vivas é de cem mil.
Desde a
mais remota antiguidade, as mulheres eram as curadoras populares, as parteiras,
enfim, detinham saber próprio, que lhes era transmitido de geração em geração.
Em muitas tribos primitivas eram elas as xamãs. Na Idade Média, seu saber se
intensifica e aprofunda. As mulheres camponesas pobres não tinham como cuidar
da saúde, a não ser com outras mulheres tão camponesas e tão pobres quanto
elas. Elas (as curadoras) eram as cultivadoras ancestrais das ervas que
devolviam a saúde, e eram também as melhores anatomistas do seu tempo. Eram as
parteiras que viajavam de casa em casa, de aldeia em aldeia, e as médicas
populares para todas as doenças.
Mais
tarde elas vieram a representar uma ameaça. Em primeiro lugar, ao poder médico,
que vinha tomando corpo através das universidades no interior do sistema
feudal. Em segundo, porque formavam organizações pontuais (comunidades) que, ao
se juntarem, formavam vastas confrarias, as quais trocavam entre si os segredos
da cura do corpo e muitas vezes da alma. Mais tarde, ainda, essas mulheres
vieram a participar das revoltas camponesas que precederam a centralização dos
feudos, os quais, posteriormente, dariam origem às futuras nações.
O poder
disperso e frouxo do sistema feudal para sobreviver é obrigado, a partir do fim
do século XIII, a centralizar, a hierarquizar e a se organizar com métodos
políticos e ideológicos mais modernos. A noção de pátria aparece, mesmo nessa
época (Klausevitz).
A
religião católica e, mais tarde, a protestante contribuem de maneira decisiva
para essa centralização do poder. E o fizeram através dos tribunais da
Inquisição que varreram a Europa de norte a sul, leste e oeste, torturando e
assassinando em massa aqueles que eram julgados heréticos ou bruxos.
Este
“expurgo” visava recolocar dentro de regras de comportamento dominante as
massas camponesas submetidas muitas vezes aos mais ferozes excessos dos seus
senhores, expostas à fome, à peste e à guerra e que se rebelavam. E
principalmente as mulheres.
Era
essencial para o sistema capitalista que estava sendo forjado no seio mesmo do
feudalismo um controle estrito sobre o corpo e a sexualidade, conforme constata
a obra de Michel Foucault, História da Sexualidade. Começa a se construir ali o
corpo dócil do futuro trabalhador que vai ser alienado do seu trabalho e não se
rebelará. A partir do século XVII, os controles atingem profundidade e
obsessividade tais que 05 menores, os mínimos detalhes e gestos são
normatizados.
Todos,
homens e mulheres, passam a ser, então, os próprios controladores de si mesmos
a partir do mais íntimo de suas mentes. E assim que se instala o puritanismo,
do qual se origina, segundo Tawnwy e Max Weber, o capitalismo avançado
anglo-saxão. Mas até chegar a esse ponto foi preciso usar de muita violência.
Até meados da Idade Média, as regras morais do Cristianismo ainda não tinham
penetrado a fundo nas massas populares. Ainda existiam muitos núcleos de
“paganismo” e, mesmo entre os cristãos, os controles eram frouxos.
As
regras convencionais só eram válidas para as mulheres e homens das classes
dominantes através dos quais se transmitiam o poder e a herança. Assim, os
quatro séculos de perseguição às bruxas e aos heréticos nada tinham de histeria
coletiva, mas, ao contrário, foram uma perseguição muito bem calculada e
planejada pelas classes dominantes, para chegar a maior centralização e poder.
Num
mundo teocrático, a transgressão da fé era também transgressão política. Mais
ainda, a transgressão sexual que grassava solta entre as massas populares.
Assim, os inquisidores tiveram a sabedoria de ligar a transgressão sexual à
transgressão da fé. E punir as mulheres por tudo isso. As grandes teses que
permitiram esse expurgo do feminino e que são as teses centrais do Malleus
Maleficarum são as seguintes:
1) O
demônio, com a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens a
fim de apropriar-se do maior número possível de almas.
2) E
este mal é feito prioritariamente através do corpo, único “lugar” onde o
demônio pode entrar, pois “o espírito [do homem] é governado por Deus, a
vontade por um anjo e o corpo pelas estrelas” (Parte 1, Questão 1). E porque as
estrelas são inferiores aos espíritos e o demônio é um espírito superior, só
lhe resta o corpo para dominar.
3) E
este domínio lhe vem através do controle e da manipulação dos atos sexuais.
Pela sexualidade o demônio pode apropriar-se do corpo e da alma dos homens. Foi
pela sexualidade que o primeiro homem pecou e, portanto, a sexualidade é o
ponto mais vulnerável de todos os homens.
4) E
como as mulheres estão essencialmente ligadas à sexualidade, elas se tornam as
agentes por excelência do demônio (as feiticeiras). E as mulheres têm mais
conivência com o demônio “porque Eva nasceu de uma costela torta de Adão,
portanto nenhuma mulher pode ser reta” (1,6).
5) A
primeira e maior característica, aquela que dá todo o poder às feiticeiras, é
copular com o demônio. Satã é, portanto, o senhor do prazer.
6) Uma
vez obtida a intimidade com o demônio, as feiticeiras são capazes de
desencadear todos os males, especialmente a impotência masculina, a
impossibilidade de livrar-se de paixões desordenadas, abortos, oferendas de
crianças a Satanás, estrago das colheitas, doenças nos animais etc.
7) E
esses pecados eram mais hediondos ao que os próprios pecados de Lúcifer quando
da rebelião dos anjos e dos primeiros pais por ocasião da queda, porque agora
as bruxas pecam contra Deus e o Redentor (Cristo), e portanto este crime é
imperdoável e por isso só pode ser resgatado com a tortura e a morte.
Vemos
assim que na mesma época em que o mundo está entrando na Renascença, que virá a
dar na Idade das Luzes, processa-se a mais delirante perseguição às mulheres e
ao prazer. Tudo aquilo que já estava em embrião no Segundo Capítulo do Gênesis
torna-se agora sinistramente concreto. Se nas culturas de coleta as mulheres
eram quase sagradas por poderem ser férteis e, portanto, eram as grandes
estimuladoras da fecundidade da natureza, agora elas são, por sua capacidade
orgástica, as causadoras de todos os flagelos a essa mesma natureza. Sim,
porque as feiticeiras se encontram apenas entre as mulheres orgásticas e
ambiciosas (1, 6), isto é, aquelas que não tinham a sexualidade ainda
normatizada e procuravam impor-se no domínio público, exclusivo dos homens.
Assim, o
Malleus Maleficarum, por ser a continuação popular do Segundo Capítulo do
Gênesis, torna-se a testemunha mais importante da estrutura do patriarcado e de
como esta estrutura funciona concretamente sobre a repressão da mulher e do
prazer.
De
doadora da vida, símbolo da fertilidade para as colheitas e os animais, agora a
situação se inverte: a mulher é a primeira e a maior pecadora, a origem de
todas as ações nocivas ao homem, à natureza e aos animais.
Durante
três séculos o Malleus foi a bíblia dos Inquisidores e esteve na banca de todos
os julgamentos. Quando cessou a caça às bruxas, no século XVIII, houve grande
transformação na condição feminina. A sexualidade se normatiza e as mulheres se
tornam frígidas, pois orgasmo era coisa do diabo e, portanto, passível de
punição. Reduzem se exclusivamente ao âmbito doméstico, pois sua ambição também
era passível de castigo. O saber feminino popular cai na clandestinidade,
quando não é assimilado como próprio pelo poder médico masculino já
solidificado. As mulheres não têm mais acesso ao estudo como na Idade Média e
passam a transmitir voluntariamente a seus filhos valores patriarcais já então
totalmente introjetados por elas.
É com a
caça às bruxas que se normatiza o comportamento de homens e mulheres europeus,
tanto na área pública como no domínio do privado.
E assim se passam os séculos.
A
sociedade de classes que já está construída nos fins do século XVIII é composta
de trabalhadores dóceis que não questionam o sistema.
As Bruxas do Século XX
Agora,
mais de dois séculos após o término da caça às bruxas, é que podemos ter uma
noção das suas dimensões. Neste final de século e de milênio, o que se nos
apresenta como avaliação da sociedade industrial? Dois terços da humanidade
passam fome para o terço restante superalimentar-se; além disto há a
possibilidade concreta da destruição instantânea do planeta pelo arsenal
nuclear já colocado e, principalmente, a destruição lenta mas contínua do meio
ambiente, já chegando ao ponto do não-retorno. A aceleração tecnológica
mostra-se, portanto, muito mais louca dos inquisidores.
Ainda
neste fim de século outro fenômeno está acontecendo: na mesma jovem rompem-se
dois tabus que causaram a morte das feiticeiras: a inserção no mundo público e
a procura do prazer sem repressão. A mulher jovem hoje liberta-se porque o
controle da sexualidade e a reclusão ao domínio privado formam também os dois
pilares da opressão feminina.
Assim,
hoje as bruxas são legião no século XX. E são bruxas que não podem ser
queimadas vivas, pois são elas que estão trazendo pela primeira vez na história
do patriarcado, para o mundo masculino, os valores femininos. Esta reinserção
do feminino na história, resgatando o prazer, a solidariedade, a
não-competição, a união com a natureza, talvez seja a única chance que a nossa
espécie tenha de continuar viva.
Comentários
Postar um comentário